30 agosto, 2005

Exorcisando antigos fantasmas...

Olá!!!

Apesar de todos os pesares de ultimamente, hoje foi um dia muito produtivo... Por exemplo, agora está chovendo. Não é aquela chuva que você diga "Meu Deus, que chuva gigantesca", mas é suficiente para eu querer ir lá fora me molhar... pelo menos vai apagar um pouco deste pó que faz Londrina parecer São Paulo...

Mas não é esse o motivo do post. Hoje eu pude exorcisar um de meus maiores fantasmas de antigamente. Como isso me deixou mais feliz! Estava eu no Viscardão, comprando uma prosaica marmita. Pela minha atual situação psicossomática, eu precisaria de uma proseika marmita (não entendeu? Piada interna!). De repente, não mais que de repente, quem eu vejo se aproximando? Ele, o terror de minha primeira passagem pela UEL, ainda no século passado; o motivo dos meus poucos cabelos; a razão da minha desistência do ramo das exatas: Ulysses Sodré.

É incrível como ele é atemporal, omnipresente, imutável. O desgraçado continua igual.

Ele veio me olhando pro cima dos óculos, com a cabeça baixa, com o olhar de reprovação que já é latente em seu rosto, mesmo que não queira fazê-lo. A princípio me assustei. Lógico, durante 4 anos ele significou tristeza, dor e sofrimento. Não haveria de ter outra reação agora.

Apenas um parêntese. Quando do segundo exame que eu fiz com ele, isso nos idos de 1997 ,após ter chegado em casa, minha prima me ligou e perguntou como eu tinha ido. Como eu tinha ido no exame? Bomba, é lógico... Comecei a conversar com ela e, de tão nervoso, meu nariz começou a sangrar... Básico...

Chegou, arrumando as calças com os punhos fechados, como é de seu costume. Olhou para mim do alto de sua superioridade arrogante e falou: "E aí, meu filho, sumido, hein? Onde você está trabalhando?". "Como atendente de call center da Vivo", respondi, meio incerto se deveria contar este tipo de coisa para ele. "É, cada um faz o que lhe cabe, de acordo com a sua capacidade", retrucou. Filho da puta, filho da puta... Mas a resposta não demorou. "Pois é. E você, continua dando aula na UEL já há quanto tempo mesmo?" "Hahaha, já faz mais de dez anos." "E ainda não conseguiu nada melhor não?" Ele entendeu a provocação. E aceitou... É lógico que não se pode comparar as duas profissões, mas ele claramente tentou me rebaixar.

"Está estudando ou já desistiu de vez?" Com toda a calma que eu não tive com ele por todos estes anos, respondi: "Sim, estou fazendo jornalismo noturno, na UEL." "Ah, pelo menos é na UEL, não é?" Filho da puta, filho da puta...

"Não, não quero macarrão, só polenta e mandioca, por favor." Tudo o que eu queria era sair dali na hora. A presença do véio estava me deixando mais mal do que eu já estava. Eu só queria a minha marmita.

"A carne pode ser costela, por favor." Ele passou por mim e foi pegar algo da padaria que não me interessava. Comecei a relembrar um dos exames que eu fiz com ele. Uma sala no CESA (meu Deus, como eu odeio aquele lugar), o quadro dividido em três partes, mais duas vítimas além de mim. No fundo da sala, Véio Ulysses lendo um tomo de Cálculo em alemão. O livro era tão grande que além de parar em pé sozinho, ainda podia sair correndo pela sala... Em cada uma das partes, uma maldita Equação Diferencial Ordinária Não-Linear de 2ª Ordem. Só uma, tão pequena, tão inocente e ao mesmo tempo tão traiçoeira. Era só resolver a equação e passar de ano... 5 minutos após começar a prova, ele fecha o livro numa pancada que parecia o som dos portões do inferno. Vem levitando até o quadro com aquele apagador retirado de um esfregão de passar cera Saci, pára ao meu lado e diz, suavemente: "Sabe para que serve isso? Para nada. NADA! Você é burro, e precisa de muito tempo ainda na minha matéria pra tentar aprender a resolver uma simples equação como esta." E as poucas linhas de giz que eu tinha escrito viraram pó a cada passada do esfregão de espuma. Junto com elas, virava pó também minha auto-estima, minha vontade de continuar ali. Queria ser uma lesma, e que aquele pó branco que caía do quadro não fosse giz, mas sal, para que eu pudesse derreter e sumir dali...

"Sem salada, por favor." Vejo que ele está voltando, com um embrulho na mão. Deve ser pão, ou coisa do gênero. "Bom, que bom que você ainda não desistiu. Qualquer coisa que precisar, pode ir falar comigo. Até mais!" Sim, eu preciso de uma cobaia viva para extirpação do pâncreas através da cavidade nasal, véio filho da puta!!!

Mas eis que toda a raiva que eu tinha guardado todo este tempo se transforma no mais belo e puro sarcasmo e eu falo, terno e cálido, algo que esteve guardado por muito tempo: "Fico feliz que o senhor ainda esteja dando aula. Aliás, durante um bom tempo eu lhe procurei, professor. Para lhe agradecer a escolher um novo caminho para minha vida. Se não fosse você, quem sabe eu teria realmente pego gosto pela computação e não estaria agora, em uma baia de um metro quadrado, programando feito um louco, durante oito horas por dia. Mas graças a você, à sua estupidez e arrogância como professor, eu pude ver que o mundo não se resume a números e cálculos. Que bom que a sua postura imbecil perante os seus alunos me fez descobrir que a área de exatas não era mesmo a minha praia. Obrigado mesmo. Se você não tivesse sido tão cretino e idiota, quem sabe eu ainda não tivesse me descoberto como potencial jornalista. Tenha um bom dia!"

O mundo estava parado ao meu redor. Foram os dois segundos mais longos que eu já tive na vida. Einstein é o cara, tudo é relativo... Peguei a marmita, agradeci à funcionária e saí, com a certeza de que eu virarei mais uma das histórias que o véio conta na sala. Mas minha alma estava leve, como há muito tempo eu não sentia. Não me conti, e ao sair do mercado, dei um grito ao atravessar a rua, como se expulsando todos aqueles medos e temores que me acompanharam durante uns quase dez anos...

Eu juro que é verdade, e quem estava lá presente pode atestar e dar fé. Até mesmo a pequena senhora que passou por nós com umas laranjas no pacote. Sem entender nada, ela olhou para mim e retribuiu meu sorriso, terna como somente as senhoras podem ser...

*********************
NP
"Im´free" - Rolling Stones

Coisas que eu aprendi desde o último post
* A vingança é um prato que se come frio.
* Medos existem para serem superados.

* Ter que abrir mão de algumas coisas pode ser muito doloroso.
* É muito bom sentir que está gostando de alguem. Mas quando esse alguém descobrir que gosta de você também é muito melhor!

"Você vai entregar a prova assim? ASSIM? Oh, meu filho, esta letra está tão apagada que nem cego consegue ler!" - pérolas clássicas do Véio Ulysses

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

CALSAVARA
ÀS VEZES FICO PENSANDO
SE VC NAO ODEIA AS PESSOAS ERRADAS.
SE VC SOUBESSE QUE BEM PERTO DE VC, VC TEM UMA "AMIGA"
QUE JÁ FALOU HORRORES
JÁ DISSE QUE VC ERA UM FRACASSADO,
APENAS PELO FATO DE VC ESTAR FAZENDO FACULDADE COM A IDADE
QUE ESTÁ (E EU ME PERGUNTO: QUE MAL HÁ NISSO? AINDA BEM QUE
VC AINDA PODE FAZER FACUL)
MEU CARO, MTAS VEZES AS PESSOAS QUE MAIS GOSTAM DE VC,
SÃO AS QUE MENOS PUXAM TEU SACO.

terça-feira, 07 fevereiro, 2006  

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